De dente a moeda com rosto de Getúlio Vargas: os itens da ditadura encontrados em escavações no DOI-Codi
SP: escavações em prédio do DOI-Codi podem revelar material genético de vítimas da ditadura
Uma prótese dentária, botões, um colírio e uma moeda com o rosto de Getúlio Vargas estão entre os itens encontrados por pesquisadores na segunda etapa das escavações no antigo DOI-Codi, um dos principais centros de tortura na ditadura militar, localizado na Zona Sul de São Paulo (SP).
A escavação arqueológica foi conduzida por equipes da Unicamp, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) entre 27 de outubro e 8 de novembro. A primeira etapa do trabalho aconteceu em 2023.
De acordo com a Unicamp, os materiais foram localizados na “trincheira”, que fica na entrada do prédio. Nesse espaço, segundos os pesquisadores, ocorreu grande parte dos interrogatórios e torturas, além de ter sido o cenário da foto montada para simular o suicídio de Vladimir Herzog.
No sentido horário, objetos encontrados nas escavações: prótese dentária, botões, moeda e colírio
Unicamp/Divulgação
Segunda etapa
Para mapear todas as áreas do antigo DOI-Codi, seriam necessários de três a seis meses. Por conta do custo do projeto, no entanto, as equipes fazem o trabalho em etapas menores, previstas para acontecer até agosto de 2026.
A segunda etapa do projeto contou com a ajuda de estudantes do curso de História da Unicamp e focou no segundo andar do prédio. Lá, os arqueólogos procuraram possíveis vestígios orgânicos humanos, como sangue, usando luminol.
🔎 O luminol é um reagente químico que, em contato com o ferro da hemoglobina, que é uma proteína encontrada no sangue, emite uma luz azulada.
Nesta etapa, também foi iniciado um levantamento arquitetônico do edifício. Paralelamente, o espaço recebeu visitas mediadas e ex-presos políticos que passaram pelo DOI-Codi, além de familiares de sobreviventes.
Exposição e memorial
Os objetos encontrados nas duas fases de escavação, juntamente com documentos inéditos, serão apresentados em uma exposição que será inaugurada durante a Calourada 2026 da Unicamp, no início do próximo ano letivo.
A mostra reunirá materiais arqueológicos e registros inéditos encontrados nos arquivos da Faculdade de Medicina (FCM) e no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), um centro de documentação voltado à memória dos movimentos sociais do Brasil.
"Nosso objetivo é construir um acervo arqueológico para um futuro espaço de memória voltado às discussões sobre estado de direito e da própria democracia”, disse Aline Carvalho, coordenadora do Laboratório de Arqueologia Pública “Paulo Duarte” (LAP), em nota.
Em abril deste ano, o Conselho Universitário (Consu) aprovou a proposta que tornou a Unicamp responsável pela gestão de um memorial que será criado no prédio do DOI-Codi, em um acordo com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
Foto forjada pelo exército brasileiro do jornalista Vladimir Herzog morto na sede do quartel-general do II Exército no bairro do Paraíso, Zona Sul de São Paulo, em 1975.
Divulgação/Instituto Vladimir Herzog
DOI-Codi/SP
Criado em 1969, o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (ou simplesmente DOI-Codi) ficava na Rua Tutóia, 921, e hoje abriga a sede da 36ª Delegacia de Polícia Civil da capital paulista.
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Foi um dos centros de tortura, assassinato e desaparecimento forçado mais atuantes do país. Estima-se que mais de 7 mil opositores da ditadura tenham sido torturados nas dependências do órgão durante seu período de atuação, até o início da década de 1980.
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