Paciente recebe 1º implante de coração artificial no interior de SP e supera doença grave: 'Nova vida'
09/07/2025
(Foto: Reprodução) Procedimento substitui função do coração natural com dispositivo importado e foi realizado em Campinas (SP), no hospital da PUC. Hospital PUC-Campinas realiza primeiro implante de coração artificial no interior de SP
"Vou poder brincar com a minha filha, coisa que ela pedia e eu não conseguia", conta Susy Iona da Silva, de 42 anos, paciente que recebeu o primeiro implante de coração artificial no interior de São Paulo.
Cirurgias como essa já foram feitas na capital paulista, mas nunca no interior do estado, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia. O procedimento durou cinco horas e foi realizado em Campinas (SP), no Hospital da PUC, no dia 24 de junho.
O coração artificial é um dispositivo importado dos Estados Unidos e fica totalmente dentro do corpo da paciente, alimentado por uma bateria. Após a implantação, ele passa a desempenhar integralmente a função do lado esquerdo do coração. Entenda abaixo.
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Para a cirurgia, foi necessária a atuação de uma equipe multidisciplinar com cerca de 20 profissionais, entre médicos, cirurgiões, cardiointensivistas e equipe de enfermagem.
O procedimento foi realizado após Susy receber diagnóstico de uma doença cardíaca grave, a cardiomiopatia dilatada, e apresentar piora do quadro. Com o coração artificial, Susy deve ter maior expectativa de vida, além de recuperar a autonomia.
"Eu sempre fui alegre, sorrisonha, tenho um sorriso fácil. Com dois corações, acho que vai ser em dobro. Agora é uma nova vida", comemora.
Com coração artificial, Susy deve ter maior expectativa de vida, além de recuperar a autonomia.
Reprodução EPTV
Diagnóstico
Antes de ser diagnosticada, Susy conta que era uma atleta: jogava vôlei, futebol, corria e não tinha nenhum sintoma que pudesse indicar uma doença cardíaca.
Tudo mudou em 2019. "Eu sentia muita dor no peito, parecendo que um elefante estava sentando em cima de mim. Muita falta de ar", relata.
Susy pediu para que o esposo marcasse um check-up. Ela passou por um médico clínico geral e por um cardiologista, fez exames na esteira e foi constatado o problema: cardiomiopatia dilatada, uma disfunção que provoca insuficiência cardíaca e dilata o ventrículo.
O coração artificial é um dispositivo que fica dentro do corpo da paciente, alimentado por uma bateria.
Reprodução EPTV
Piora progressiva
Após o diagnóstico, Susy apresentava piora progressiva e dependia de remédios para estimular o músculo cardíaco, mas eles não tinham boa resposta.
"Ela chegou em um momento que ela estava dependendo de medicações para manter o suporte de vida dentro de uma UTI. A gente não tinha perspectiva nenhuma para essa paciente receber alta hospitalar ou voltar a ter uma condição de vida, no dia a dia, para ela voltar a conviver com familiares e tudo mais", afirma Maurício Marson, coordenador de cardiologia do Hospital PUC-Campinas.
Segundo Marson, a piora de Susy indicava grandes riscos. "A insuficiência cardíaca, no estágio em que essa paciente se apresentava, é uma doença inexorável, vai levar o paciente ao óbito", afirma.
A equipe médica cogitou a possibilidade de um transplante de coração, mas esse procedimento foi descartado.
"Ela tinha um nível de anticorpos muito grande, então é uma contraindicação formal do transplante, por isso ela foi encaminhada para outra terapia", explica o cirurgião cardíaco Gustavo Calado.
Dispositivo mecânico substitui as funções do coração natural.
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Como funciona o coração artificial?
O coração artificial é um dispositivo mecânico que substitui as funções do coração natural. Ele faz com que a parte comprometida do coração da paciente, que não conseguia mais bombear o sangue, seja suplantada pelo dispositivo.
O equipamento tem um sistema de propulsão, que impulsiona o sangue do lado que não funciona para a artéria aorta. Veja na ilustração abaixo.
Coração artificial tem sistema de propulsão, que impulsiona o sangue do lado que não funciona para a veia aorta.
Reprodução EPTV
O equipamento custa cerca de R$ 800 mil e, de acordo com a equipe médica que realizou o procedimento no hospital da PUC-Campinas, a cobertura é obrigatória pelas operadoras de saúde nos casos em que há indicação clara em centros especializados.
"A expectativa é que isso venha nos próximos meses também a ganhar uma maior amplitude de utilização, contemplando também os pacientes do sistema público", comenta Marson.
Com o dispositivo, Suzy terá maior expectativa de vida. "Em muitos centros já tem os dados mostrando uma expectativa de vida em dois, em cinco anos, muito próxima, muito semelhante à do próprio transplante", diz o coordenador.
'Nova vida'
Depois do procedimento, Susy segue acompanhada de perto por diversos profissionais, inclusive pelos cardiologistas que participaram da cirurgia.
Em plena recuperação, aos poucos ela retoma atividades que o coração já não permitia mais, como caminhar e beber água. A previsão é de que ela receba alta médica no dia 14 de julho.
Susy já faz planos para quando sair do hospital. "Quero fazer uma feijoada para a família, eu com a minha mãe", afirma.
Para ela, outra conquista é poder voltar a brincar com a filha.
"Vou poder olhar para ela e não sentir medo de desmaiar, porque ela viu muita coisa, a minha menininha de nove anos. Esse medo já vou deixar de lado, porque agora é uma nova vida. Uma vida feliz, uma vida leve, tranquila. Com dois corações batendo", celebra Susy.
Implante de coração artificial foi realizado no Hospital PUC-Campinas.
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