Ração investigada provocou morte de 222 cavalos em todo o país, diz Ministério da Agricultura
03/07/2025
(Foto: Reprodução) Outras 195 mortes de equinos ainda estão em investigação. Consumo de produtos da Nutratta Nutrição Animal foi proibido pelo Governo Federal em junho. Veterinários investigam adoecimento de 120 cavalos no interior de SP; nove animais morreram
Reprodução/EPTV
Um balanço divulgado nesta quinta-feira (3) pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirma que 222 cavalos morreram após consumirem rações produzidas pela Nutratta Nutrição Animal. Outras 195 mortes ainda estão em investigação em todo o país (veja abaixo).
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De acordo com a pasta, a primeira comunicação sobre mortes de equinos que teriam ingerido alimentos da marca foi recebida pela ouvidoria em 26 de maio de 2025. Um mês depois, o Governo Federal proibiu a venda de produtos da Nutratta para qualquer animal.
Desde então, a Fiscalização Federal Agropecuária faz apurações nos locais onde foram reportados casos de adoecimento ou morte, com o objetivo de identificar as possíveis causas dos óbitos. Até o momento, os casos apresentaram associação com o consumo de rações da empresa citada.
O g1 pediu e aguarda um posicionamento da Nutratta.
Já foram contabilizadas mortes nos seguintes estados:
São Paulo: 83
Rio de Janeiro: 69
Alagoas: 65
Goiás: 4
Minas Gerais: 1
Além dos casos confirmados, também são investigadas mortes nas seguintes localidades:
Goiânia (GO): 70
Sudoeste da Bahia: 40
Jarinu (SP): 34
Uberlândia (MG): 18
Santo Antônio do Pinhal (SP): 10
Guaranésia (MG): 8
Jequeri (MG): 8
Mariana (MG): 7
Dificuldades na investigação
A pasta ressalta que a apuração desses novos casos tem sido dificultada pela ausência de comunicação formal via ouvidoria, que é o canal oficial para registro das denúncias. Disse também que a natureza dos sintomas apresentados pelos animais, que podem surgir tardiamente após a interrupção do uso da ração, também afetam as investigações.
"A evolução clínica dos equinos, marcada por insuficiência hepática seguida de piora repentina, tem tornado ainda mais complexa a estimativa precisa do número total de óbitos", informou na nota.
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Fiscalização encontrou irregularidades na empresa
O Ministério da Agricultura informou que desde o recebimento da primeira denúncia, foram realizadas duas fiscalizações no único estabelecimento da empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda., que possui uma linha de produção destinada à fabricação de rações para equinos e ruminantes.
Segundo a pasta, durante as inspeções foram constatadas irregularidades que motivaram a suspensão cautelar da atividade de fabricação de todas as rações da empresa. A fabricante impetrou mandado de segurança contra as medidas adotadas, e o Mapa já prestou os devidos esclarecimentos ao Poder Judiciário, aguardando atualmente a decisão judicial.
"Adicionalmente, o Ministério também suspendeu a comercialização de todos os produtos elaborados pela Nutratta Nutrição Animal Ltda., sendo que o escopo das restrições à comercialização foi sendo ampliado gradativamente, à medida que mais informações sobre as possíveis causas do problema eram obtidas com as investigações".
"O Mapa reafirma seu compromisso com a proteção da saúde animal e com a segurança da cadeia de produção agropecuária no Brasil, e orienta que quaisquer informações ou denúncias relacionadas ao caso sejam encaminhadas por meio da ouvidoria", completou o órgão.
Investigações
Ao menos 30 equinos morreram em Indaiatuba (SP) após o consumo da ração. De acordo com um veterinário ouvido pela EPTV, afiliada da TV Globo, uma substância tóxica encontrada na ração investigada atinge fígado, rins e cérebro dos animais.
Segundo o especialista, a monocrotalina está presente em crotolárias, plantas usadas na cobertura de solos, tóxica para os animais. "É uma leguminosa, utilizada no campo para fortalecer o solo, e ela não é comestível. Ela é bem tóxica para os animais. Ela só serve de adubo para o solo, e não deveria estar onde foi encontrada", disse.
Onde a substância ataca?
A primeira parte do organismo dos cavalos que a substância ataca é o fígado, levando à falência do órgão. Depois, segundo os veterinários, podem surgir problemas nos rins, úlceras gastrointestinais e danos ao sistema neurológico, levando à morte. Os primeiros sintomas podem aparecer de três a quatro meses depois do consumo do alimento contaminado.
"Os animais que se alimentaram de uma certa quantidade rápida, eles tiveram um quadro mais agudo de intoxicação, e esses foram os quadros que observamos mais rápidos evoluídos até o neurológico. Os animais que se alimentaram pouco, ela [substância] veio intoxicando aos poucos, até trazer os animais ao óbito", explicou o veterinário.
Consumo proibido
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) proibiu o consumo de todos os produtos da empresa Nutratta Nutrição Animal, destinados a qualquer animal.
O recolhimento dos produtos da empresa destinados a equídeos já havia sido determinado pelo Ministério no dia 17 de junho.
De acordo com a pasta, novas informações sobre lotes envolvidos apontaram falhas de registros e produção e no uso dos ingredientes dos produtos. São elas:
falha de registros de produção e sequenciamento de produção;
falta de separação entre torta de algodão, resíduo de soja e feno, nos silos de matérias primas, impedindo o controle da quantidade adicionada de cada ingrediente na ração;
utilização de resíduo de soja, matéria-prima não constante na lista de matérias-primas aprovadas;
falta de rastreabilidade integral da produção, impedindo a segregação de lotes.
Na decisão, o Ministério afirma que, por conta da constatação dessas "falhas sistêmicas, torna-se tecnicamente impossível assegurar a segregação segura dos produtos por espécie ou por lote".
Em 100% dos casos analisados até o momento, os tutores informaram que os animais consumiram rações fabricadas pelo mesmo estabelecimento.
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